1º) Houve um protocolo da Bruna Landim (eu a autora que vós fala);
2º) Um resumão de todos os protocolos feitos pelos vocacionados;
3º) A turma conversou um pouco sobre as diferenças de linguagens dos veículos como teatro, TV e Cinema;
4º) A artista-orientadora Verônica Mello propôs um jogo em que nós, os vocacionados de sábado, interagíamos com os nossos objetos cênicos, que vinham desses protocolos, pessoas desconhecidas e um espaço distinto: a rua, que não estamos acostumados a trabalhar.
O protocolo é um procedimento feito pelos vocacionados para criação de novas dramaturgias, ele também é parte do processo. Esse procedimento não funciona como um diário em que normalmente se faz um texto mais informativo do dia, sem conotações diferentes para palavra. O protocolo é um jeito diferente de mostrar o modo de ver sempre singular de um vocacionado sobre o último encontro, e pode ser feito tanto com um texto, uma letra de música, um jogo teatral ou uma poesia, algo que represente o último encontro com a turma, portanto, ele também é um trabalho artístico.
Neste encontro, a pessoa que ficou responsável pelo protocolo foi a Bruna Landim, - eu a autora. Ela preparou vários fragmentos de textos, de poesia e prosa, e os colocou numa caixinha, propondo uma relação diferente com eles. A autora ensinou uma música muito complicada, que é o grande e badalado hit de todos os tempos: parabéns para você, e disse que era para falar os textos no ritmo dessa música e depois relacionar com uma imagem em que lendo esses fragmentos os vocacionados haviam pensado. Assim, várias propostas usando uma estética irônica sugiram.
A seguir, os textos que foram usados no tal protocolo:
Ode às cores das flores
[Bruna Landim]
A flor é verde
Oca é a semente, matéria-prima da obra máxima:
[aquela flor ainda verde!
Menina bêbada da luz solar, nascente neste mundo todo noite
Tadinha, mal consegue mostrar os seus cabelos
[para lua
Trancada nessa oca
A flor é azul
Numa expressão aveludada, o rosto sorrindo
Ela se alegra.
O moço a alimenta e a flor enamorada fala:
Ó Menino bonito, por que não me dá essas vestes cinzas
[e dorme junto comigo na noite infinita]
A flor é preta
O rosto desmanchando,
A florzinha morre, tinha pétalas azuis
[ e aveludava-se quando sorria.
O rosto apagando,
A flor miúda desaparecia, a pétala azul sumia
[No tempo gasto, uma a uma se esvaíam].
Fragmentos sobre o Dr. Blonk
[Bruna Landim]I
O Homem é um reflexo da água da privada, bebe, bebe, bebe, caga, caga, caga, vomita, vomita, vomita. As fezes e o produto estranho, que saem dele, são do Homem. Ele olha para as águas e se ver como imagem da sua própria sujeira.
II
Ele olha para as águas e se ver como imagem da sua própria sujeira e diz: “sim, eu sou da teoria em que vejo o ser humano como um lixo, é igual vomitar no vaso e depois de muito chapado perceber aquela imagem refletida que é sua. Sim esse sou eu”
III
Sim esse sou eu. Antes de perceber a minha fobia, - o nome técnico para essa doença que tenho é pânico do Homo sapiens sapiens. Entro em pânico quando estou em multidões. Assim começa, primeiro, me vem a ânsia de vômito, depois, o coração bate, depois, os músculos ficam contraídos, depois, eu escuto todo movimento repetitivo e, depois, não me acontece mais nada, só o silêncio.
IV
Só o silêncio. Percebo nesse silêncio duas coisas: a) faz tempo que não me alimento direito; b) faz tempo que não durmo com alguém pensando em fazer ela gozar. Só o silêncio. Percebo que a minha realidade não é nada que havia imaginado quando era pequeno, o meu menino, que era eu, gostava de violino e não de medicina.
V
O meu menino, que era eu, gostava de violino e não de medicina. Os contos de fadas chegam em um momento que simplesmente não fazem nenhum sentido. No mundo da música, quando menino, me imaginava tocando o meu braço direito, que era feito de cordas finas, e acariciando o meu corpo, que era de madeira italiana. Ah! Quando eu era menino, o meu corpo era de madeira italiana...
VI
Ah! Quando eu era menino, o meu corpo era de madeira italiana. No dia que me tornei médico e adulto, o meu corpo se transformou em vômito puro da cerveja da mais péssima qualidade. Foi desse jeito que aprendi a ter fobia.
"Onde está a terra do nunca?" é a pergunta, que nos norteou para fazer a primeira interação na rua com pessoas diferentes, e também saiu de um protocolo. Ela foi o ponto inicial para a criação de outras perguntas e alguns caminhos. Com algumas regras norteadas pela A.O (artista orientadora), a turma caminhou em busca desse lugar e perguntando a pessoas sobre o clima, a alimentação e toda vida que supostamente pode existir nessa terra do nunca.
O espaço foi mudado. Caminhar pela rua, falar com pessoas, concentrar-se nas regras do jogo e na ligação com o grupo foram tarefas bastante complicadas, que ao longo de um processo, não haverá dúvidas, tudo será lapidado e formatado. Encontraremos um caminho sem afobação.
O trabalho está começando. A turma é bastante criativa, existe uma variedade grande de experiências a ser compartilhadas entre nós. Começamos com aparentemente uma pergunta boba, talvez não há nem necessidade de encontrar uma resposta definitiva, ou talvez seja o contrário. O fato é que começamos, a pergunta está aí e essa inquietude de questionar é empolgante. Não precisamos ter pressa com respostas, aproveitamos o momento da dúvida que é único e bonito. Só isso; mais uma vez, foi um prazer novamente passar a manhã entre vocês vivendo tudo isso.
Muito bom Bruna. Poderíamos tentar sempre descrever nosso processo aqui. Assim quem faltar sempre poderá saber em que pé estamos. E também podemos relembrar o nosso percurso.
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